domingo, 30 de novembro de 2014

Foi sem querer querendo


Escrever sobre a morte de personagens tão querido não é algo bom. Na verdade "isso me dá coisas"

Por Paollo Rodajna*

Aos 85 anos, morrreu em sua residência no México, Roberto Gomez Bolaños, engenheiro elétrico que nunca exerceu a profissão, optou por fazer comédia. Ao saber disso, "me escapuliu sem querer" uma lagrima. Esse texto não pretende ser uma homenagem ao Roberto, conservador, que lastimavelmente usou todo seu prestigio para liderar uma campanha contra a legalização do aborto na Cidade do México na década passada ou aquele escritor que tem uma episódio para explicar o quão maléficas são as manifestações de rua (como no epsódio especial do dia das crianças), o Bolaños que sempre apoiou o setores mais reacionários do México, que se envolve em brigas justiçais para que seus ex-companheiros Carlos Villangrán (Quico) e Maria Antonieta de las Neves (a Chiquinha) não continuem com seus personagens, que segundo ele pertencem a ele. Esse homem, machista, mesquinho e reacionário não merece uma única homenagem.
Queremos aqui homenagear e analisar um gênio da comédia - a genialidade pode se manifestar de varias formas, uma delas é a capacidade de construir uma piada. Entretanto, mais genial que construir uma piada é conseguir que ela seja repetida mil vezes e todos, sem sombra de duvida todos, riam dela como se fosse a primeira vez.
Em 71 quando foi criado, o programa tosco, com cenários mal feitos, uma comedia quase circense e adultos vestindo-se como crianças era um programa que qualquer executivo da teledramaturgia cancelaria . Em 73, contrariando todos os prognósticos, já era líder em quase toda America Latina, chegando a ser exibido em mas de 80 países - dublado em russo, japonês, coreano, árabe e etc... Hoje Chaves e Chapolin são exibidos em 19 países com audiências extraordinárias, vale apena lembrar que no meado dos anos 2000, quando o SBT tentou cancelar a exibição do seriado, houve uma revolta com abaixo assinados e até uma passeata contra tal heresia a nossos sonhos mais simplórios. Eu particularmente assisto,  por gosto e por uma busca pela simplicidade da inspiração .
Chaves o menino pobre, que passa fome e seus amigos conquistaram nossos corações, vivem no nosso imaginário, quem nunca respondeu que foi sem querer querendo que me atire o primeiro post negativo.
O anti-herói Colorado surge no momento do boom dos heróis americanos. Longe de ser o Superman, o Aquaman, Batman e outros ele não é alto, nem forte, nem bonitão. Ele é baixinho, barrigudinho, fraco e muitas vezes ( muitas vezes mesmo) atrapalhado, assim como eu e você. A teledramaturgia latino-americana construiu muitos vilões épicos, como Odete Roitman, Nazaré, Flora, Leo e Paola Bracho. Mas nenhum deles chegaram aos pés de Chinezinho, Tripa Seca, Rasga Bucho, Alma-negra e a Bruxa Baratuxa.
Mas de onde vem todo sucesso? Porque um programa que se repete diariamente, assistido exaustivamente por seus fãs, ainda encanta não só a geração da década de 80, mas as de 90 e as atuais e sem sombra de duvida encantará as gerações vindouras? Não é uma resposta simples mas ao meu ver, a resposta está na sociedade que ele reproduziu, consciente ou inconscientemente - sem querer ou  querendo - mas Chaves retrata a sociedade como ela é, com gente desempregada tentando se virar, um menino abandonado, uma mulher pobre que dominada pela ideologia dominante, jura de pé junto que é de outro nível, acima da gentalha. Qual professor nunca se viu no professor Girafalis, dando aula pra crianças de periferia que aparentemente, não querem aprender, o saber está tão longe de sua realidade, a realidade tão longe do saber dessas pobre crianças,que parece que os profissionais de educação falam grego, mas mesmo assim lutam contra a ideologia burguesa e usam de todos os meios para compartilhar o saber e transformar os estudantes em "homens de bem", como já foi dito pelo pro próprio professor Lingüiça (me escapuliu sem querer).
As novelas, com sua retratação de uma realidade da burguesia também conseguem cativar as pessoas e entrarem em nossos sonhos. Entretanto tente reprisar Avenida Brasil, ou A próxima Vitima durante 25 anos seguidos para ver o que acontece. Fugir da nossa realidade é bom, mais a impossibilidade de reproduzir aquela fantasia de pessoas que acordam maquiadas, com roupas de ficar em casa que eu não uso nem em casamento, torna essa fantasia passageira.
Foi a identificação com a nossa realidade que deu esse sucesso, é mais próximo de mim e você Seu Madruga, que vive em trabalhos precarizados para se sustentar é muito mais proximo de nós que Dona Armênia ou Rutinha. Seu Barriga é muito mais próximo do banco que nos inferniza -  nos ligando diariamente - para nos cobrar uma divida que parece, muitas vezes impagável. Para mim isso isso isso explicam seu sucesso.
Roberto Gomez Bolaños nos mostra que é possível fazer uma comédia sem traços racistas, homofóbicos e machistas. Que não precisamos fantasiar uma vida burguesa longe de nossa realidade para fazer um seriado, ele provou que a simplicidade ainda é a maior arma artistica.
Ele sim se tornou imortal, diferente dos nossos imortais da ABL: Sarney, ACM e FHC - que espero que sejam esquecidos pelas próximas gerações. Eu tenho certeza se eu convidar meu neto pra ver um filme ele vai responder  "Pô vô! eu queria ver o filme do Pelé"

Paollo Rodajna é fotografo de nascença e operário por maioria dos votos.

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